29/05/2010

Café Saar

ಸೇರಿಗ್ರಫಿಯ, ರೆಅಲಿಜದ ಎಂ 2009

ಓ ಲೆಗದೋ ದೇ ಜ್ಯಾಕ್ಸನ್ Pollock

Sobre "O legado de Jackson Pollock" de Allan Kaprow

A notícia de uma herança inesperada, para quem recebe , é no mínimo curiosa. Mais ainda, quando os bens inventariados são estéticos.
E é assim que, passados dois anos do impacto da morte de Jackson Pollock, que Allan Kaprow escreve texto "o legado de Jackson Pollock". Nele lança os princípios estéticos de mais de uma geração dos artistas americanos, enunciando o futuro da produção artística a partir dos anos 60, uma arte direcionada a diluir-se na vida cotidiana.
O novo, no devir da obra de Pollock, vem pelo terrivelmente moderno que se apresenta, e afeta desde então qualquer artista presente nesta cena.
Este abalo, resvalando insanidade, é que evidencia a resistência à mudança no que se pensa sobre a arte em agosto de 1956. Talvez o impacto de sua morte, e também de sua vida, estava associado ao fracasso da nova arte. Trata-se aqui do tempo enquanto suporte para a arte, diluindo o luto necessário, para depois, rever o legado.
E o que se vê no ato de pintar é a ação, em novo espaço, grande, entrelaçando o infinito, criando novas matérias.
Contrariando a certeza de morte plena da pintura, Pollock ao mesmo tempo em que destrói a pintura também constrói magníficas telas, se é que ainda são telas. Decerto, pinturas. Sempre, arte. Mas como tal ato artístico ainda se faz possível?
Libertada dos objetos representados, as manchas puderam ser elas mesmas. Ao estender enormes telas no chão, talvez Pollock tenha restituído à pintura e também a arte, o seu início, há tanto perdido. E para quem observa metáforas inusitadas, seu ato alerta também para a urgência de filosofias mais horizontais. Os seus gestos, sem julgamentos, recuperam arcaicos rituais, e sua atitude refaz o caminho para a arte. O tempo mostra que ele sabia o que fazia.
Parecia ser capaz de lidar com o caos, e sem nomear o que vinha apressadamente por alguma semelhança, deixou o novo se apresentar na sua singularidade, e muda o que chamamos de forma para um vir a ser constante, onde na sua obra não há entrada, e ao mesmo tempo há várias. E nem qualquer variante deste princípio, e ao mesmo tempo todos e mais alguns. Não mais a forma, e sim um continuum, onde o observador e artista se encontram recusando-se a aceitar um final artificial, emoldurado por douradas lógicas falecidas. E neste ponto, morre o observador, nasce alguém que participa da obra.
Pollock sabiamente , mais do que alguém que entendeu como fazer isto, propiciou a territorialização de um novo espaço, conquistado com coragem acompanhada da inteligência.
É provável que tenha entendido sua diferença e o legado é como se lida com o novo espaço/campo. Tal como sua pintura que inunda o ambiente, o ir e vir, a liberdade do artista de poder estar em toda parte, foi restituído de forma horizontal, afirmando o processo da criação como algo sem fronteiras para vir a ser arte.
Torna-se possível na mesma potência agora, ir direto à arte, pintar dentro da pintura, e a pintura ir além do espaço iniciado, mostrando um “mundo que sempre tivemos em torno de nós, mas ignoramos”. Isto, depois de Pollock, não é mais possível.
Assim, em um espaço no qual inexiste o tempo, Allan Kaprow constrói um texto junto a Jackson Pollock, e nos legitima herdeiros da própria arte, agora com a estética original restituída.

28/03/2010

22/03/2009